segunda-feira, 26 de agosto de 2013

QUERO SER ESCRITOR - 4


Fluidez e Equilíbrio:


Fluidez literalmente. Imagine-se com um pouco de sede, não muita, normal. Pegue um copo e coloque água dentro. Beba. Matou sua sede.

Situações surreais agora:
- Não está faltando água, mas a torneira pinga gotinha por gotinha.
- A torneira jorra água, com tanta força que bate no fundo do copo e volta. Quase impossível encher o copo.
A torneira é você, a água seu livro, o sedento: o leitor.
Eu gosto de Bernard Cornwell, acho esta modalidade de ficção baseada em fatos reais e históricos fascinante, gosto de histórias medievais e gosto de História. Não consegui ler um dos volumes da saga da Canção da Espada, acho que foi Os Senhores do Norte, até o fim. O problema foi o copo às vezes esvaziado pelo fluxo ou nunca cheio pelo conta-gotas.
O Sr. Cornwell deve ter certo volume de páginas predeterminado para escrever (em outro capítulo falarei sobre o trabalho do escritor – relação com editoras etc.), digamos 350 a 450 páginas. É muita página para pouca história ou muita história para pouca página, só sei que me parecia que a história não emocionava porque não fluía no ritmo do leitor.

Ação Dramática
A nossa torneira mais poderosa para saciar o leitor é a ação dramática. Os elementos básicos do drama estão arraigados em nossa cultura, fazem parte dela há pelo menos 29 séculos.
Estes são fragmentos de textos de Arquíloco séc. VII ac. Perceba como soam familiares estas passagens nesta tradução atualizada:
“Não gosto do grande general de passos largos, orgulhoso de seus cachos, a barba bem feita, prefiro um baixo, com as pernas tortas, mas o andar seguro e carregado de coragem.”
“Algum ‘saio’ (tribo dos saios) se orgulha do escudo; sem querer, abandonei a arma num arbusto. Salvei minha vida, que me importa o escudo? Perca-se; conseguirei outro igual.”
“Nem glória nem respeito ganha um morto: a graça dos vivos, vivos perseguimos. Ao morto sempre resta o que é ruim.”  Tradução de Luiz Dolhnikoff.
Quem nunca leu Homero é bom fazê-lo, lá encontraremos a base de tudo que apreciamos num texto dramático.
Equilíbrio da Ação Dramática (existem muitas escolas/livros/métodos etc.) – este é um texto simples que fala sobre elementos e dá uma pincelada geral no tema.
O suspense – ao não definir muito bem os resultados da ação, ao deixar no ar uma sentença ou uma adaga, cria-se um dos mais poderosos elementos para cativar/emocionar o leitor. O “E agora o que vai acontecer?”.
O suspense precisa ser bem dosado. Em novelas policiais o suspense é a linha mestra. Fora este gênero específico, elementos de suspense se resolvem a medida da ação e outros são inseridos. A linha do suspense é costurada com as outras linhas.
O “flash-back” – em respostas aos porquês que vão aparecendo na trama, alinhavados pelos suspenses, temos as recordações do passado que nos fizeram chegar neste ponto. Nem sempre se menciona como um fato passado ou como recordação, pode ser uma revelação num diálogo, ou até uma sutileza de duas ou três palavras.
Por favor -  Esqueçam o pretérito-mais-que-perfeito do verbo ser – fora.
Ele fora um grande guerreiro no seu tempo”. Toda vez que leio algo assim tenho uma síncope!
A reviravolta - na verdade a reviravolta pode ser uma mudança de rumo na história ou um elemento novo, inédito. Podemos inverter um ponto de vista, mudar o protagonista da ação por um ou dois capítulos. Criar um elemento que faça o leitor se agarrar ao que foi contado antes para não perder o fio da história.
O Descansar – Fazendo o subconsciente do leitor trabalhar. Inserimos elementos de humor, se a ação é dramática, fazemos alguma observação fora da história, descrevemos mais demoradamente um cenário importante. Todos esses elementos servem  para que o subconsciente do leitor trabalhe. Ele passa a viver a história. Na minha humilde opinião, o primeiro descanso deve vir logo depois do primeiro suspense.
A Repetição – O leitor se familiariza com o ambiente da história quando ele sabe como localizar os elementos dentro dela, sejam eles relativos à personalidade de um personagem, geográficos, resultantes de ação passada, descritivos etc. Esta familiaridade se dá pela repetição de nomes, comportamentos, temas.
Todos esses elementos bem dosados enchem um copo d’água e matam a sede do leitor.
Próximo post – Tempo Dramático


Leia a lição anterior aqui!

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