terça-feira, 29 de outubro de 2013

Quero Ser Escritor 16 - Diálogos e Seus Dramas (ou seriam Comédias?)

Livros em primeira pessoa sugerem um eterno diálogo entre o protagonista e o leitor.
Início de Dom Casmurro de Machado de Assis, que é para mim um dos maiores escritores de todos os tempos.
O pequeno diálogo entre o poetinha e Bento, nos coloca fora da perspectiva do protagonista e nos lança dentro da perspectiva do poetinha. Os que escrevem poemas - e todos escrevemos um momento ou outro de nossas vidas: para um amor, para nós mesmos, para as estrelas – magoam-se como o rapaz pela atitude de Bento. Ou seja, o diálogo girou o centro da ação e já nas primeiras linhas percebemos o protagonista voltado a si mesmo, inserido em sua própria visão de mundo, e o livro é pois uma epístola (livro carta) em primeira pessoa.

Qual a função do diálogo?
1ª – Caráter do personagem – o escritor descreve o personagem, pode fazê-lo através de um longo parágrafo e então podemos imaginá-lo vil ou heroico, no entanto, quando este personagem interage temos exemplos do que descrevemos e a ideia torna-se mais forte e precisa.
2ª – Dramatizar – as relações entre os personagens ganham tensão e consistência.
3ª – Contar em vez de descrever – esta é uma boa ferramenta para revelar um passado, gerar expectativas, inserir um cenário.
O que não se faz com um diálogo?
Informo – o diáloativgo não é um compêndio, a escrita reproduz o universo da fala, não há nada mais artificial do que um diálogo longo e descritivo. Talvez se o personagem estiver no sofá de um analista, ou um criminoso descrevendo um crime ou um arrependimento (Crime e Castigo – Dostoyevisky). Uma pessoa que fala demais, fala para si não para os outros.
Uniformidade – para reforçar o estado de um personagem, usamos expressões nos diálogos que nos ajudem a expor seus sentimentos. Escolhemos o som das palavras, a intensidade e o comprimento das frases para o raivoso, o irônico, o romântico etc. Ao ler um livro preste atenção como os bons escritores modificam as palavras de acordo com o caráter dos personagens.
Cópia – procure não copiar a realidade, se por um lado o diálogo é a boca levada aos olhos, por outro lado ele não exime o escritor da obrigação de ser criativo e mostrar ao leitor o que está nas entrelinhas.
A melhor forma de melhorar os diálogos é ouvindo, não dá para escrever como Machado de Assis, ele viveu noutra época. Traduzindo o diálogo do texto acima para os dias de hoje no metrô:
“- Manda ai, vai, disse eu acordando.
- Já é, murmurou ele.
- Dá hora!”

Veja a lição anterior aqui!


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