Capítulo
8 – Luta Nas Colinas De Mélis
Mas os Bulks a
reconheceram.
Exitaram por um
momento perante o canto da espada, o cavaleiro do Warg no entanto não se
mostrou intimidado.
- Ataquem, seus
cães, o que estão esperando?
- Khar ro, esta
louco? Esta é Mitrhiilden, a antiga lâmina de Jaoh’ndar. – respondeu um Bulk
menor, que estava com mais medo que os outros.
Quando os primeiros
povos de Andor, os Banedúim, foram derrotados por Dorean e seus exércitos
vindos do Leste, ele se tornou Rei. Porém um mau começou a se apossar de seu
coração, um mau muito antigo, um mau que os Banedúim se dedicavam a manter
preso no sul, uma ameaça que os Jeh’khgari do Leste não conheciam, e esse mau o
consumiu. Dorean começou a cometer atrocidades por todo o reino, assassinatos
sem motivo algum, roubos e ameaças aos pobres, maltratava sua mulher e seus
filhos e coisas piores e mais sombrias ainda. Seu General, Jaoh’ndar, decidiu
por um fim aquela mudança, aquela loucura sem limites. Contatou Jeh’khgar, do
outro lado do Mar da Névoa, e convocou seu irmão Jaah’ndur, Capitão dos Jakar,
os Guerreiros por Nascença. Durante anos eles lutaram contra Dorean e sua
tirania, mas o Rei era astúcioso e habilidoso em batalha, nada conseguia
detê-lo e sua loucura e tirania prevaleceram. Os Jakar, Jaoh’ndar e Jaah’ndur,
refugiaram-se nas montanhas, derrotados. No entanto no inverno que se seguiu
eles bateram à porta de Dorean, e dessa vez estavam com seus espíritos
elevados, sua coragem renovada e suas esperanças depositadas em um único homem,
Jaoh’ndar, e sua recém adquirida espada, Mitrhiilden. A espada sagrada dos
Banedúim.
Deu-se então a
guerra, muitos sucumbiram em batalha e outros não tiveram nem mesmo a chance de
se defender, mas Jaoh’ndar finalmente se encontrou com Dorean no campo de
batalha. Eles lutaram com bravura, coragem e ódio, enfim Jaoh’ndar feriu
Dorean, e todos virão seu sangue jorrar, estava negro como jamais poderia
estar, o mau já o havia consumido, carne, músculos e sangue. O ferimento foi
mortal porém Dorean não sucumbiu, então a aliança de Jaoh’ndar decidiu bani-lo
ao Desertos Branco, para que lá ele terminasse seus dias, em agonia e morte.
Mas Dorean foi mais ao Sul que qualquer homem de Andor ou Jeh’khgar, e ali ele
encontrou aquilo que os Banedúim mais temiam, o mau original..
Daquele dia em
diante Jaoh’ndar escondeu a espada, pois seu poder era grande demais para cair
em mãos sulistas, e a memória da espada se perdeu no tempo. Até agora.
- Ele poderia ser
Jaoh’ndar em pessoa seu verme, não me importo – Khar ro avançou em seu Warg
para cima de Merlon e das crianças, e muitos seguiram-no -, Morte!
Merlon brandiu sua
espada e o primeiro Bulk caiu sem uma perna, um segundo que havia subido na
árvore desceu sobre ele com lamina em punho, Merlon deu um passo para o lado e
desferiu um golpe de baixo para cima, tão forte que partiu o Bulk ao meio,
a espada parecia se jogar contra os Bulks com vontade
própria, sem parar de vibrar e emitir um canto de sereia, um outro Bulk segurou
Arwen pelos cabelos, e a ergueu no ar, somente para perder o braço para Mitrhiilden
um segundo depois. Arwen correu e se jogou dentro da carroça. Nogard estava lutando bravamente com seu
galho contra um Bulk que ria a todo instante, mas o garoto acabou levando um
soco no queixo e caiu atordoado, quando o Bulk ergueu sua lâmina para acabar
com a vida do menino Khar ro deu um rugido.
- Ele não deve
morrer! – ordenou o Capitão dos Bulks em sua voz de trovão.
Merlon aparou duas
espadas negras com sua lâmina, girou se agachando e mais quatro pernas Bulks
foram decepadas, o velho estava completamente coberto de sangue negro, então
ele viu Nogard, sendo colocado nas costas do Warg, sentiu o coração apertar em
seu peito, não posso perde-lo, Dragões me
deem força, não posso perde-lo, pensou Merlon desesperado, estava cercado
novamente, ele precisava da espada mas não havia outra alternativa, Merlon
bradiu Mitrhiilden e lançou-a no ar, em direção ao Warg. O tempo parecia correr
sem pressa na Colina de Mélis, a espada foi voando pelos ares, parecia que não
atingiria seu alvo, mas mudou sua rota no ultimo instante, como se tivesse vida
própria, e foi de encontro ao Warg e lhe decepou a cabeça, Nogard caiu no chão,
não havia mais risco de o levarem naquele Warg, o velho suspirou, mas se
deparou com a sua situação agora, estava sem espada contra mais de cinco Bulks
armados e enraivecidos, ele sabia que Arwen estava na carroça, está segura por
enquanto, pensou o velho antes de ser atingido pela lâmina de Khar ro, Capitão
dos Bulks, aquele do elmo partido, o golpe transpassou o ombro de Merlon e o cravou
à árvore. Nogard recuperou os sentidos e viu em que situação merlon se
encontrava, tentou ficar de pé mas o Warg estava sobre uma de suas pernas, se
esforçou ao máximo mas não conseguiu se soltar, ficou ali sem poder fazer nada
enquanto Merlon estava cercado de Bulks baderneiros e com uma espada cravada no
ombro. O punho de raízes de Mitrhiilden estava a poucos centímetros de sua mão,
a espada vibrava e pulava na grama como um peixe fora da água, ele tentou
empunhar a espada mas era pesada demais, e vibrava demais, para conseguir
segura-la.
Então ele surgiu.
Veio subindo a
colina em um cavalo de guerra castanho, sua capa era verde escura e o
acompanhava tremulando como uma sombra, a fogueira deixava sua armadura
completamente rubra mas Nogard sabia que não era vermelha, seu elmo cobria-lhe
completamente a face, e sob o topo havia um cavalo de aço, a crina do cavalo de
aço era tão comprida que chegava ao meio das costas do cavaleiro, um Cavaleiro, pensou Nogard, maravilhado
demais para dizer algo. O Cavaleiro aproximou-se cavalgando e saltou por sobre
o Warg que prendia Nogard, a visão daquele enorme cavalo de guerra sobrevoando
sua cabeça fez Nogard dar um grito de emoção completamente involuntário.
- Isso, acabe com
eles Cavaleiro da Cidade! – todos os Bulks olharam para o cavaleiro ao mesmo
tempo, mas já era tarde demais.
O cavaleiro passou
pelo meio da algazarra de criaturas, sua capa e a crina de seu elmo pareciam
nadar em pleno ar, ele atropelou grande parte dos Bulks da colina, fez uma meia
volta e sacou dois machados de arremesso, lançou-os e dois Bulks caíram mortos,
desembainhou sua longa espada e galopou em direção ao restante dos Bulks,
aqueles que permaneceram morreram, todos os outros fugiram, exceto Khar ro. O
Bulk com o elmo rachado aguardou o momento exato, então golpeou o cavalo com
sua lâmina negra, cavalo e cavaleiro beijaram o solo. Quando o cavaleiro
decidiu se levantar Khar ro já estava em seu encalço, prendendo-o com uma bota
negra ao solo.
- Quem vem da cidade
dos homens? – perguntou Khar ro, mas o cavaleiro não lhe respondeu.
O enorme Bulk então
decidiu revelar o medo nos olhos do homem, retirou-lhe o elmo e vislumbrou um
longo cabelo dourado, os olhos verdes e um rosto belo como o amanhecer, não
havia medo em seu olhar, o reconheceu de imediato. E gargalhou.
- Renolon? Ah, hoje
deve ser o meu dia de sorte, primeiro esse velho com essas crianças, agora o
verdadeiro herdeiro do trono de Andor em pessoa.
Ao ouvir aquilo
Nogard quase engasgou, pelos Dragões, é
Renolon o irmão de Arelon, ele é o futuro Rei.
- Devo dizer que
nunca mais verá Arelon, quase Rei. – disse Khar ro erguendo sua espada.
Então todos virão a
lâmina atravessar o corpo de Khar ro, Merlon a segurava do outro lado do Bulk.
- Volte para as
sombras, Escoria Sombria!
O sangue do Bulk
jorrou sobre Renolon e ele caiu sem vida, Merlon se livrou da espada e caiu
sentado, exausto.
Arwen saiu de seu
esconderijo com algumas ervas em um pote, estavam totalmente amassadas, veio
até Merlon e aplicou a mistura em seus ferimentos, a garota estava corada, e
Merlon sabia que era vergonha pela batalha.
- Não se envergonhe
filha, é melhor salvar uma vida do que retira-la.
O Cavaleiro Renolon
levantou-se, olhou para Merlon que lhe acenou positivamente, caminhou até o
Warg e libertou Nogard de seu peso, estendeu a mão ao garoto lhe ajudando a
ficar de pé.
- Esta ferido? –
perguntou Renolon
- Não senhor...
quero dizer Sor Renolon. – respondeu o garoto pondo-se de joelhos.
Renolom sorriu
amigavelmente. Merlon deu uma bufada de dor enquanto Arwen o tratava.
- Levante-se garoto,
ele tem essa mania Renolon, ele e essa daqui, se ajoelham para todos. – disse
Merlon.
- Não deve se
ajoelhar para mim garoto, sou irmão de Arelon mas ainda não sou Rei, e nem
pretendo ser. – virou-se para Merlon – Está bem Merlon?
- Bah, apenas um
arranhão, tive que lançar a espada nesse monstro de quatro patas maldito, não
tive outra escolha, ei garota esta passando essa meleca de plantas no meu
pescoço, acho que não fui degolado, não ainda.
Arwen estava olhando
para Renolon em estado de choque, sua mão movia-se espalhando a mistura de
plantas mas ela não dava a minima atenção para Merlon, Renolon era jovem, era
belo e era um Cavaleiro.
Então Renolon viu a
espada, Mitrhiilden, estava quieta e já não vibrava nem pulava mais, estava tão
silenciosa quanto a noite, segurou em seu cabo de raízes e fitou a lâmina,
desde a base até sua ponta.
- O poder nessa arma
é tão inimaginável. – e deu um sorriso tímido.
- Renolon? –
advertiu Merlon.
Renolon o olhou por
sobre o ombro, a crina de seu elmo dançava ao vento, então ele levou a arma até
Merlon, ajoelhou-se e a entregou.
Merlon a pegou
rapidamente, e estendeu a mão para que o jovem Cavaleiro se levantasse.
- Não deve usa-la,
meu caro Cavaleiro, mas pode nos ajudar a entrega-la na mão de seu verdadeiro
dono.
Renolon se levantou,
olhou para Nogard e falou.
- Eu irei ajuda-lo.
Eles recolheram as
poucas coisas que não estavam manchadas com o sangue negro das sombras, e
partiram, madrugada adentro, rumo a Pescoço dos Homens, mas dessa vez iam
escoltados por um verdadeiro Cavaleiro da Cidade, Renolon, irmão do Rei Arelon.
Que misteriosamente havia se ajoelhado perante Merlon.
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