Capítulo
12 – Um Segundo Presente
Pensou Arwen,
parada sob o arco do portão, trazia uma pequena jarra nas mãos, estava cheia de
uma mistura contra queimaduras que ela havia preparado a mando de Merlon. Arwen
pensava que haveriam feridos, de fato ouvira falar das chamas do Vergonha da
Família, mas aquilo que ela viu foi algo diferente, foi algo assustador e
impressionante.
Será que poderei ajuda-los?
Os céus eram uma
mistura de negro, vermelho e cinza. O solo estava repleto de flechas e lanças
queimadas, havia homens, cavalos e garotos, jovem escudeiros, deitados no solo, aqueles que estavam imóveis
não veriam o amanhã, foram beijados pelas chamas do Dragão e nada deles restou
alem de sonhos inacabados e memórias. Arwen foi caminhando em direção ao campo,
o solo parecia querer ceder, o calor ainda era sentido através do calçado, a
jarra não estava pesada, mas parecia, os corpos que não se moviam partiam o
coração da garota, mas aqueles que se moviam partiam-lhe a alma, gritos de
agonia e lamentos eram ouvidos por toda a extensão do campo. Muitas mulheres
começaram a sair da cidade, mas nenhuma delas trazia jarros de medicinas, não
traziam água nem alimentos, elas traziam lágrimas e saudades.
Não havia mais sons
dos sinos e das trombetas da cidade, a ameaça se fora, os Cavaleiros da Cidade
fizeram sua parte, protegeram sua cidade, suas mulheres e crianças, havia uma
vitória mascarada naquela dor, uma vitória pequena, sobre um mau que crescia e
se tornava cada vez maior dia após dia.
Arwen abaixou-se
para começar a tratar o primeiro ferido, um jovem Cavaleiro, não tinha mais cabelos
e sua armadura estava tão quente que Arwen não pode toca-la, ele a olhou e
tentou dizer algo mas a garota o interrompeu com um sorriso.
- Eu sei, eu sei
bravo cavaleiro, todos sabemos que você deu o seu melhor – os olhos de Arwen
derramaram algumas lágrimas -, mas sua jornada ainda não terminou, deixe-me
ajudá-lo. – E passou a mistura em seus braços, a feição do Cavaleiro mudou
completamente, suspirou de alivio e pode voltar a respirar novamente.
As misturas
Bolkurianas eram conhecidas em toda a Andor, uma arte roubada dos Banedúim,
assim como a magia e a terra em si.
Arwen passou a
mistura em todos aqueles que ainda respiravam, até que não houvesse mais
mistura no jarro, então ela viu na extremidade oposta do campo, os longos
cabelos dourados de Renolon ao vento, a seus pés, ajoelhados, estavam Merlon,
Lorde Grum, e Nogard, deitado no solo, imóvel.
A garota correu sem
pensar, mais lágrimas molharam-lhe o rosto, o campo continuava fumaçando como uma enorme fogueira
amanhecida.
Nogard estava deitado
de costas, saía sangue de seus ouvidos, e seu cavalo batia uma pata
insistentemente no solo ao lado do garoto, Arkas
está preocupado, pensou a garota.
- O que houve? O
Dragão o atacou? Por que vocês não o defenderam? Como ele chegou aqui? – as perguntas
vieram em meio ás lágrimas, Arwen ajoelhou-se ao lado de Merlon e afastou uma
mecha de cabelo do rosto de Nogard – Ele era meu.... eu devia ter... eu o....
- Não há nada de
errado com o garoto Arwen – interrompeu Merlon antes que Arwen dissesse algo
que estava além do entendimento dos ali presentes -, pelo contrário, ele salvou
a todos.
Lorde Grum deu uma
fungadela de desdém.
- Então por que ele
não se move?
Nogard permanecia
deitado, imóvel, tinha os olhos completamente abertos, seus olhos estavam
cheios de lágrimas mas mesmo inconsciente o garoto se recusava a chorar.
- A presença do
Dragão causa isso às vezes, Arwen. – disse Renolon, que tinha as mãos queimadas
devido ao escudo - Este tipo de animal é do inicio dos tempos, e nele residem mais
mistérios do que os homens podem imaginar.
Arwen ficou mais
aliviada, e um pouco constrangida pelo que havia dito, ou quase dito.
Então Nogard piscou
os olhos, acordou sem saber o que se passava ao redor, e mesmo depois que
Merlon explicou a situação ainda parecia meio confuso.
- Bem, creio que
esses palermas não lutavam a anos, não tinham chance alguma contra a fera, e
nós Ponta Lancenses eramos apenas dez, digam o que quiser, mas Andor não será
páreo para mais uma invasão do sul, ainda me lembro da ultima e jamais vi
tamanho desafio. – disse o gordo e forte Lorde Grum.
- Deveria respeitar
os mortos, Castelão. – disse Renolon, ofendido pelas palavras do Lorde de
Pontas de Lança.
- Perdoe-me,
majestade, não quero ser envenenado como seu irmão, pode ficar com o meu posto.
– disse Grum, falando de Arelon e sua doença, fez uma reverencia que encheu
Renolon de ódio.
- O que esta
insinuando? – disse Renolon perdendo a cabeça, tocou o punho de sua espada –
Mostre-me seu aço...
- Basta! – disse Merlon
pondo-se de pé – Vocês são todos iguais, lutam entre si enquanto partilham de
um inimigo em comum, olhem para trás, não vejo moradores do sul aqui nesses
campos, e quando a hora chegar se não se unirem de uma vez por todas e
esquecerem todos esses Senhores, Lordes e Reis, nada restará de Andor. Grum
você tem razão não existem soldados tão bem treinados quanto os Ponta
Lancenses.
- Exatam... –
começou a se gabar Lorde Grum.
Mas foi interrompido
por Merlon.
- Por isso deverá
levar Nogard consigo para o norte, para treiná-lo e prepará-lo, para o pior.
Lorde Grum virou a
cabeça e cuspiu.
- E o que faz você
pensar que eu o aceitarei?
- Eu! – disse
Jih’ndo, se aproximando – Não é hora para discussões, precisamos ajudar os
feridos, Lorde Grum você levará o garoto. – Nogard e Arwen começaram a entender
que ficariam longe um do outro – Mas por hora sua presença é requisitada na
ajuda aos feridos. – disse Jih’ndo convidando o Lorde Jeh’khgari a se retirar
dali o quanto antes.
Grum não se abateu,
aproximou seu rosto de Nogard. Merlon tocou Mitrhiilden. O Lorde olhou nos
olhos do garoto, que crescia rapidamente dia após dia.
- Vou aceitá-lo, até
que morra ou até que encontre alguém melhor que você. – bateu os calcanhares e
partiu com seus dez guerreiros.
- E é por isso minha
jovem – disse Jih’ndo a Arwen, quando o Lorde se afastou -, que os Ponta
Lancenses se casam com suas lanças, são péssimos de se conviver, mas são úteis
em batalha.
Arwen pegou-se
pensando em uma questão, e perguntou sem pensar.
- E você? Também não
é casado senhor Jih’ndo? – Merlon e Renolon trocaram olhares desconfortáveis e
Nogard ainda não acreditava que havia enfrentado um Dragão.
O Jeh’khgari sorriu
abertamente, seus dentes eram brancos e bonitos.
- E por que você acha
que eu sou um dos homens mais ricos de Andor minha cara Arwen? – Arwen não
entendeu a resposta mas achou melhor ficar quieta. Jih’ndo chamou seu criado,
aquele de vestes brancas e muito magro, e pegou um embrulho de couro – Nogard,
eis aqui o seu presente, não posso lhe dar muitas informações sobre esta
lâmina, afinal não a conheço, apenas sei que esta é uma das espadas mágicas
Banedúim, foi encontrada sob o leito de um grande maegi, no final da Era das
Conquistas Jeh’khgari, tome é sua. – e estendeu o embrulho ao garoto.
Nogard pegou a
espada e retirou-a da bainha, a espada era leve como uma pena, possuía uma
lâmina comprida porém estreita, era levemente curvada na ponta e parecia tão
afiada quanto podia estar, sua lâmina era fina, possuía um guarda mão dourado e
seu pomo era composto por um cristal pontiagudo, mas o que mais chamou a
atenção de Nogard e de todos os outros, era sua lâmina em si, era feita de um
material semelhante ao barro e a lama, e era tão amarronzada quanto, Nogard
teve medo de golpear com a lâmina e quebrá-la como um velho pote de mel. Bateu
algumas vezes com a ponta no solo, temeroso.
- Não se preocupe,
ela não é nada frágil, tenha a bondade. – disse Jih’ndo apontando um pequeno
arbusto, que estava completamente queimado pelas chamas de Lutheraxes.
Nogard golpeou o
tronco e os galhos, e o corte foi tão suave e silencioso quanto um sopro.
Minha espada, agora não preciso de mais nada para ser um Cavaleiro,
pensou o garoto.
- Como se chama? –
perguntou Nogard.
Jih’ndo deu de ombros.
- Não sei, como te
disse não conheço muito dessa lâmina.
- Merlon disse que
se deve conhecer sua arma. – disse o garoto, para a surpresa do velho.
- Muito bem Nogard,
e isso é verdade, creio que terá tempo suficiente em Pontas de Lanças para descobrir
tudo sobre ela, pois permanecerá lá durante longos seis meses.
Agora não havia mais
volta.
- E minha mãe? –
perguntou Nogard, tentando ser evasivo.
- Já esta ciente,
mesmo antes de sairmos de Ferro Forte.
Nogard não sabia o
que era mais espantoso, o fato de que sua mãe sabia disso tudo desde o inicio
ou o fato de Arwen estar tão vermelha de raiva a ponto de espancar todos ali.
- Desculpe Merlon –
disse o garoto -, mas não posso aceitar. – e atirou a espada e a bainha ao
solo.
O velho abaixou-se e
recolheu a bainha, limpou as cinzas que se prenderam na madeira e encarou
Nogard, sua sobrancelha estava erguida novamente.
- E posso saber o
motivo, senhor? – perguntou Merlon.
Nogard fitou Arwen e
sorriu.
- Não se deve
esquecer do passado não é mesmo, e Arwen esta comigo desde sempre, não posso
abandoná-la.
Renolon sorriu
amigavelmente e cruzou os braços encarando Merlon.
- Já pensei nisso
meu jovem – disse Jih’ndo -, irei com vocês para Pontas de Lança, e Arwen irá
como minha sobrinha.
Nogard ganhou um
sorriso de Arwen.
- Então irei. –
disse o garoto e deu de ombros.
Então sentiu a
bainha de madeira de sua recém adquirida espada na cabeça, Merlon bateu com
força e vontade, com força até demais talvez.
- E isso é para que
aprenda a nunca jogar sua espada onde não deve.
Todos teriam rido da
situação, mas ainda havia muitos feridos nos campos. Quando todos foram
resgatados e cuidados, e os mortos enterrados com seus devido respeitos, a
noite já caia sobre Andor, eles voltaram para dentro da cidade, sujos e
cansados, Merlon fez questão de ser o ultimo a entrar, mais a frente seguiam
Nogard e Arwen, lado a lado conversando, Arkas passeava ao lado dos dois, como
se guardasse o garoto a todo momento. Nogard trazia sua nova espada presa ao
cinto, sua lâmina era tão comprida que tocava a rua.
- Obrigado pelo que
fez por mim, Nog. – disse Arwen.
- Não preciso dizer
que você faria o mesmo por mim, pois sei que faria.
- E então, você tem
uma espada, e ela não tem um nome, como vai chama-la? – Perguntou Arwen.
Nogard olhou para os
céus, não havia estrelas, as sombras não as deixavam aparecer a um longo tempo,
lembrou-se quando deitava sobre o telhado de Pátio dos Arqueiros, em Ferro
Forte, olhando as estrelas com sua mãe, parecia que haviam se passado mil anos,
então o garoto ficou sério, olhou para o cabo de sua nova lâmina, o diamante
brilhava à luz dos archotes da rua.
- Se chamará
Luxímera. A Estrela na Escuridão, e enquanto eu a possuir as sombras irão
desmoronar, eu prometo.
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