sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Nove Dragões - A Lenda de Nogard

Capítulo 9 – Um Primeiro Presente


  
Não acredito que estou montado em um cavalo de guerra de verdade, pensou Nogard, enquanto dividia a sela do grande Arkas, com Arwen. O cavalo de guerra de Renolon era enorme e forte, seu pelo era de um castanho tão vivo que o tornava quase vermelho, Renolon decidiu deixar as crianças montarem o cavalo, pois queria ver como ele e Nogard se dariam. Arkas era conhecido como um dos últimos Gravas, os cavalos sagrados dos primeiros povos de Andor, os Banedúim, estes animais eram conhecidos por sua inteligência, e compartilhavam da longevidade Banedúim, Arkas era de um tempo antigo, um tempo antes dos Jeh’khgari, e era conhecido por sua rebeldia e agressividade, poucos eram os Cavaleiros que conseguiam doma-lo, e monta-lo era uma tarefa para os mais experientes, mas Nogard estava se dando muito bem no dorso do grande animal.
  - Você tem noção do que esta fazendo Nogard? – perguntou Arwen, que estava espantada e feliz ao mesmo tempo – Esta montando um Gravas, um cavalo sagrado.
  Nogard estava cheio de si, mas sua postura era inadequada e seus comandos imprecisos, não estava com medo, apenas apreensivo, por Arwen.
  - E você acha que eu não sei disso? Olhe como ele é forte, e como pisa suave, parece que estou montando as nuvens. – tentou parecer forte, mas foi traído pela sua idade - Estou tão grudado a essa sela que minhas pernas estão com câimbras, acho que quando chegarmos a cidade não poderei montar por uma semana.
  Renolon e Merlon estavam dividindo o banco de condução da carroça, e não conteram as gargalhadas, afinal não se pode ver uma criança montando um Gravas todo dia, e ainda por cima reclamando de câimbras.
  - Eu disse para não deixa-lo montar Renolon, as crianças de hoje em dia não aprendem mais nada da maneira certa. – disse Merlon.
  Renolon olhou para as crianças e sorriu, deu um tapa nas costas do velho Merlon.
  - Ah Merlon, deixe-os, tenho certeza que jamais montou um cavalo antes de aprender a arte da montaria por completo, mas esses são novos tempos, novas leis e novos acontecimentos. – seu semblante ficou sério, o elmo pareceu pesado demais para o colo, então ele o atirou dentro da carroça – Chegou um mensageiro de Angur a três dias.
  Merlon movimentou o braço afim de sentir o ombro ferido, ainda estava doendo muito, mas ele aprendera a ignorar coisas como aquela com o passar dos anos.
  - Arelon? – perguntou sem tirar os olhos da estrada.
  Renolon acenou positivamente.
  - Sim, parece que esta muito doente, não sai de seu quarto a dias, não come e seu único sustento é o vinho, os Curistas estão preocupados, não sabem dizer o motivo da enfermidade nem de que tipo ela se é.
  - O velho Arelon ainda não partirá, meu caro Cavaleiro, ele ainda tem coisas a fazer em Andor, e coisas a contar, o velho guarda segredos demais, esse é seu pecado.
  Renolon olhou para as crianças, estavam brincando em cima do grande Arkas, não parecia haver problemas para elas, seus sorrisos eram honestos e verdadeiros, não havia ontem ou amanhã, apenas o agora em suas cabeças, a verdadeira pureza da juventude.
  - Merlon, vocês se conhecem desde crian...
  - Não comece Renolon, não hoje, não nesses dias que se seguirão, Arelon fez coisas terríveis para Andor, coisas vergonhosas, que eu jamais irei concordar ou esquecer. – Merlon fitou as muralhas que se aproximavam a cada hora – Ele não era assim, costumava ser bravo e destemido, era um Rei à moda antiga, liderava os homens no campo de batalha e lutava com eles, ombro a ombro, coroa e elmo partilhavam dos mesmo perigos, dos mesmos ferimentos e das mesmas vitórias, jamais senti maior prazer do que servir Arelon e Andor, mas ele mudou – o velho balançou a cabeça -, eles sempre mudam, espero que o próximo seja diferente. – disse isso e fitou Renolon.
  - Sim, é o que todos querem. Também chegou um mensageiro de Lago do Rei.
  Merlon encarou o Cavaleiro em sua armadura, uma grossa sobrancelha estava erguida, daquela forma que só Merlon sabia encarar uma pessoa.
  - O que a fortaleza das águas tem para dizer?
  - Fizeram uma excursão, mandaram seus melhores homens para os Postos de Sentinelas, através da Floresta Escura, para recolherem informações, e o que eles disseram não é agradável. – passou a mão pelos cabelos dourados – Alguns meses atrás quatro tropas de Bulks foram vistas abaixo do Mar das Sentinelas, os homens de Águais aprontaram os barcos durante a noite e impediram a travessia, mas alguns Bulks conseguiram adentrar a Passagem de Gotum.
  - Quantos? – perguntou Merlon, assim que o Cavaleiro da Cidade terminou de falar.
  - Uma tropa, inteira, cerca de uma centena, devem estar perdidos no Grande Paredão, mas irão encontrar a saída, e quando fizerem isso, devemos estar preparados, um ataque à retaguarda dos Postos pode ser fatal, a vigilância é voltada ao sul, não podemos permitir esse ataque.
  - Devemos contatar Lorde Doufas – disse Merlon assumindo seu antigo posto, instintivamente, mas percebendo logo em seguida que não era mais General -, você deve contatar Lorde Doufas, e rápido.
  Renolon sacudiu a cabeça, seus belos cabelos louros dançaram ao vento.
  - A cidade de Força está ocupada demais com sua guerra inútil, não irá nos ajudar com suas forças, e Porto Vitória não deixará a cidade desguardada, os homens lutam entre si, mas partilham de um mesmo inimigo, os do Sul, precisamos convocar os Ponta Lancenses.
  Merlon coçou a barba.
  - Tem razão Decadência, mas não sei quais alternativas restam. Ah cale a boca, eles não virão. – Renolon já conhecia a mania de Merlon, isso não o surpreendeu, Merlon então voltou a falar com o príncipe – Eles não virão, os Ponta Lancenses não virão por cem monstros daqueles, cem Bulks não representam ameaça para eles, eles amam a batalha mas também amam o desafio.
  - E então o que devo fazer? – perguntou Renolom
  - Deixe comigo, quando chegarmos à cidade farei as coisas andarem novamente, Andor esta parada tempo demais, e os sulistas estão se movimentando, sinto isso em meus ossos, e nesse maldito anoitecer antecipado.
  O dia já começara a escurecer, pouco mais de meio-dia todos sabiam, mas dessa vez não haveria descanso, Merlon e Renolom decidiram que todos viajariam naquela noite, a mensagem de Águais deixara o velho inquieto, agora você fica ai nessa cama quente, enquanto o velho Merlon aqui resolve seus problemas, alteza, pensou Merlon lembrando-se de Arelon. Não haveria pausa, eles chegariam nos portões na próxima madrugada, ele entregaria suas lanças e iria assumir seu antigo posto, mesmo contra sua vontade.
  Arkas e Nogard já pareciam velhos amigos, Arwen pegou no sono no meio da noite, e Renolom a colocou na bagagem da carroça, mas Nogard não estava com sono.
  - Acha que consegue domar um animal dessa natureza jovem? – perguntou Renolon.
  Nogard apertou as rédeas.
  - Acho que posso tentar, mas precisarei de ajuda para montar.
  Renolon sorriu.
  - Muitos Cavaleiros do Rei tentaram montar esse cavalo Nogard, e todos fracassaram, eu sou o único que conseguiu sua autorização. Os Gravas não são como os outros cavalos, eles não podem ser domesticados, nem mesmo adestrados, quando um Cavaleiro monta um Gravas, não é o Cavaleiro que esta escolhendo sua montaria, é o cavalo que esta escolhendo seu Cavaleiro.
  Aquele comentário fez Nogard pensar, será mesmo que um Gravas pode escolher um Cavaleiro? Será que Arkas me escolheu, ou só deixou que eu lhe montasse pois sou uma criança?
  - Sabe a quanto tempo monto Arkas, Nogard? – perguntou Renolon, enquanto Merlon fumava seu cachimbo e sorria.
  - Não sei, cinco, talvez dez anos.
  - Uma noite.
  Nogard olhou para Renolon sem entender nada, uma noite?
  - E apenas me deixou montar no momento em que eu lhe contei que viria em seu encontro. – disse Renolon ajeitando-se no banco de condução – Acha que eu preferiria esse duro banco de madeira, a montar um Gravas meu jovem? Creio que não, espero que cuide bem dele Nogard, pois esse cavalo o escolheu – Nogard arregalou os olhos espantado -, esse cavalo é seu Nogard.
  Pelos Dragões, agora só preciso de uma espada.
  A noite correu como o vento, Arwen estava sendo acordada por Merlon, Nogard estava tão maravilhado com seu presente que sequer reparou nos portões da cidade, à sua frente. Eles se abriram e então o garoto ergueu os olhos, era um enorme portão de ferro, preso por correntes com elos do tamanho de um homem, eles passaram pelo arco imenso, Nogard pode ver a grossura da muralha.
  - Senhoras e Senhores – disse Merlon -, a cidade de Pescoço dos Homens, onde aquele homem que não se protege acaba sem pescoço. – e ganhou um olhar de repreensão de Renolon, pelo comentário.
  Os olhos das crianças brilhavam, maravilhados, jamais poderiam imaginar que uma muralha podia ser tão alta.
  Dois homens os esperavam, um era um humilde serviçal, vestidos com sedas brancas, era extremamente magro mas não parecia faminto, o outro era um homem belo, jovem e elegante, com olhos escuros e brilhantes, um nariz pequeno e um longo cabelo negro, amarrado sobre a cabeça, ostentava um sorriso bondoso, estava imponente em um traje de cetim vermelho, uma faixa passava por trás de seu pescoço e se enrolava em seus braços, uma faixa dourada com muitas pedras preciosas.
  - Merlon. – disse o homem jovem e elegante, fazendo uma reverência.
  Merlon sorriu, desceu da carroça e deu um abraço no homem, algo que o deixou um pouco constrangido.
  - Meu amigo – disse Merlon ao homem com a faixa, virou-se para Nogard e acenou para que ele se aproximasse -, Nogard, este é Jih’ndo, o homem que lhe deve um presente.
  - Meu Senhor. – disse Nogard, que só não se ajoelhou pois a ponta da bota de Merlon não deixou.

  - Meu caro garoto, temos muito o que conversar – disse Jih’ndo, com um forte sotaque Jeh’khgari -, e muito a aprender, espero que goste de espadas, pois nos próximos meses é apenas isso que você irá ver.



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