Capítulo
13 – Rumo Ao Norte
Eles se lavaram,
jantaram e foram dormir, dormiram naquela noite como se não houvesse amanhã,
estavam exaustos, de noites mal dormidas e batalhas a muito não vistas. Pela
manhã, o desjejum estava posto, mais fartura na mesa de Jih’ndo, o rico
Jeh’khgari não poupava fundos, e da maneira como gastava deveria ser realmente
rico, como todos diziam.
Nogard foi acordado
por Renolon, o Príncipe estava majestoso naquela manhã, usava uma cota de malha
prateada com o cavalo prateado da cidade estampado no peito e nas costas,
utilizava um cinto de espada repleto de pequenas jóias, calçava botas longas de
montar, e sobre a cabeça trazia uma pequena coroa, fina como um galho mas tão
dourada quanto o sol, seus cabelos estavam particularmente bonitos na luz da
manhã.
- Acorde pequeno
herói – disse Renolom sorrindo -, venha, o pequeno-almoço esta servido, dessa
vez seja moderado em relação aos morangos, sim. – o garoto corou perante o
comentário.
Os estábulos da
grande construção de Jih’ndo estavam em total movimento, cavalariços preparando
os animais e as bagagens para a longa viagem, Pontas de Lança, seis longos meses no Norte, pensou o garoto, que
não conhecia nada além da pobre Ferro Forte e suspirou, que seja então.
Merlon, Jih’ndo e
Renolon estavam comendo. Arwen também estava sentada e mordiscava um pequeno
pedaço de pão, estava mais emburrada que no dia anterior e Nogard logo soube o
motivo, estava vestida com um vestido novo, Jih’ndo havia providenciado, o
outro estava em ruínas, era um vestido branco, repleto de rosas e flores
bordadas, lhe cobria os pés mesmo sentada, possuía varias saias sobrepostas e
uma gola exageradamente grande, que Arwen logo rasgou e jogou no colo de
Jih’ndo, seu corpete estava tão apertado que a garota respirava com
dificuldade, e Nogard riu daquilo, seria
interessante lutar com ela assim, provavelmente a saia a derrotaria antes de
mim, pensou o garoto.
- Senhores. – disse
Nogard quando sentou-se a mesa.
Merlon cruzou os
braços sobre o peito.
- Tenho que
concordar com você novamente, Decadência, a uma semana ele não tinha modos à
mesa, reclamava do trabalho e roubava coisas, agora faz reverência para se
sentar, levantar e comer, odeio essa cidade.
- Ora não seja tão cruel
com a cidade Merlon, são os Cavaleiros e sua cordialidade que influenciam os
jovens – disse Jih’ndo -, encare pelo lado bom, pelo menos ele parou de se
ajoelhar.
Nogard passou os
olhos pela mesa, havia alguns pães recheados com presunto defumado, algumas
rodelas de queijo com pequenos pedaços de carne torrada, frutas em uma cesta,
jarros de vinho e uma grande caneca de suco de laranjas com manga, havia uma
sopa leve em cada um dos lugares, e a dele já estava esfriando, a torta de
morangos estava ali mais uma vez, mesmo com desejo o garoto achou melhor não
tocá-la. Nogard inclinou-se para pegar um pedaço de pão e afundou as pontas dos cabelos na sopa, só
então reparou que estavam ficando realmente compridos, o garoto estava
crescendo rápido nos últimos dias, e não sabia a razão.
- Então, quanto
tempo acha que levarão até Pontas de Lanças? – perguntou Renolon, que ficaria
em Pescoço dos Homens.
- Creio que um mês.
– respondeu Jih’ndo.
Nogard se espantou.
- Um mês? Mas a
carroça de Merlon não andará tão rápido assim nem que os Dr... nem que coisas
antigas voltem a aparecer.
O velho retirou um
punhado de seu fumo da manga do manto cinza e começou a prepará-lo, na mesa do
anfitrião e sem a autorização dele.
- Coisas antigas já
estão voltando Nogard, e Lorde Grum jamais levaria lanças em carroças, ele vai
levá-las em seus cavalos, e prepare-se para cavalgar rápido ou ficará para
trás. – disse Merlon acendendo seu cachimbo, Jih’ndo cobriu a boca e o nariz
com um tecido, mas aquilo não serviria para intimidar o General – Além do mais
minha carroça e meus velhos cavalos vão para Ferro Forte, retornarei para lá
assim que partirem.
Dessa vez foi Arwen
quem se espantou, engasgou com o suco e limpou a boca com a manga do vestido,
para desespero de Jih’ndo.
- Não vai para
Pontas de Lanças conosco? – perguntou Nogard.
- Não, e nem
Renolon, como já devem imaginar, mas Jih’ndo certamente cuidará de vocês, tenho
coisas para resolver no oeste, Nona Ilha está tão isolada como pode ficar, sua
comunidade própria me preocupa, às vezes eles se esquecem que pertencem a
Andor, e tenho certeza que Argus não vai lá a muito tempo. Também devo impedir
tolos de se matarem em uma guerra sem sentido, e por tudo aquilo que é mais
sagrado impedir que aqueles malditos Bulks atravessem o Grande Paredão.
- Descul... – Nogard
começou a falar.
- Deseja outra
pitada de sua própria bainha, como a de ontem?
O garoto entendeu a
mensagem e se calou. O resto do desjejum seguiu em silêncio.
Pegaram os cavalos
nos estábulos, Arkas estava a postos, espantando qualquer cavalariço que
ameaçasse tocá-lo. Montaram e foram até o Portão Norte, muitos homens estavam
trabalhando na reforma do portão, pararam sob o arco e se despediram.
- Deseja dar algum
recado à suas mães, crianças? – perguntou Merlon.
Arwen logo se
adiantou.
- Diga a minha mãe e
a meu pai que fui chamada pelo Rei, ou eles virão me buscar. – disse a garota,
um pouco espantada pela possibilidade.
- Sim, entendo o seu
ponto de vista, eu direi, e você Nogard?
Nogard parecia
austero sobre seu Arkas, fitava o horizonte da Baía das Algas ao longe, fechou
os olhos, viu sua mãe, os longos cabelos negros, o sorrizo triste.
- Que me perdoe, por
deixá-la só em um momento tão delicado.
A resposta
surpreender Merlon, definitivamente ele
está passando pelo Rovãn, mais cedo do que eu pude imaginar, não é à toa que
ele é diferente, até mesmo daqueles como nós, pensou o velho, com as duas
mãos apoiadas na espada. Passou os olhos por Nogard e não via mais uma criança,
via um jovem Cavaleiro, e desejava que ele amadurecesse logo, pois segredos
seriam contados e batalhas seriam travadas, e coisas viriam nos próximos dias.
- Como queira.
Preste atenção a tudo que lhe ensinarem e treine com seriedade, Pontas de Lança
pode dobrar até os mais promissores guerreiros. – disse Merlon.
- Cuidado com o
anoitecer e não esqueçam que Pescoço dos Homens estará aqui, para quando
retornarem.- disse Renolom fazendo uma reverência.
Eles eram uma
comitiva de dez guerreiros mortíferos, um Lorde, um Grande Senhor e quatro de
seus criados, duas crianças, dezesseis cavalos rápidos carregados com lanças
nas laterais e um enorme Gravas, que podia correr mais rápido que qualquer
cavalo do reino.
- Iremos procurar os
perigos, Príncipe, e não evitá-los, somos Ponta Lancenses e não Cavaleiros da
Cidade. – disse Lorde Grum, e deu uma ordem a seus Nascidos da Batalha, os
guerreiros começaram a se mover.
Renolon decidiu
ignorar a afronta.
Nogard se lembrou de
algo, algo que aconteceu durante a batalha, o Dragão o havia chamado de ladrão,
percebeu então que se não perguntasse agora à Merlon apenas alimentaria essa
dúvida por seis longos meses.
- Merlon, porque o
Dragão me acusou de ser um ladrão.
Renolom pareceu
espantado com a pergunta, descruzou os braços e ficou apreensivo.
- Essas criaturas
são misteriosas garoto, não se sabe o que pensam ou o que sentem, ele pode ter
perdido milhares de coisas ao longo desses anos, e deve acusar milhares de
pessoas por tal acontecimento, se um dia eu descobrir, lhe contarei. – disse
Merlon se evadindo da resposta, que ele com certeza sabia.
- Então é adeus? –
perguntou Nogard voltando a ser criança.
Merlon sorriu.
- Ainda vamos nos
ver, pode ter certeza disto, mantenha-se calmo e se torne um guerreiro, conheça
sua espada e ela o reconhecerá, não maltrate seu cavalo e ele o levará até onde
o pensamento puder ir, nunca vire as costas para um amigo ou ele não se
lembrará de você em suas preces, por hora devemos esperar, e estar preparados
para quando chegar o momento de agir. – deu uma longa baforada em seu cachimbo,
soprou para os ares – Sabe Nogard, estou orgulhoso de você, você me lembra seu
pai quando jovem, era um guerreiro formidável, espero que tenha um fim melhor
que o dele, e não é um adeus, é um até logo, meu amigo.
- Até logo Merlon. –
disse o garoto e se afastou, para seguir o grupo, iriam para o Norte, passariam
pela pequena vila de Curva da Montanha, depois pela Cidade sede de Angur, para
reabastecer provisões, e seguiriam a longa jornada através da Passagem das
Montanhas, que era infestada de ladrões, patifes e calhordas de toda a Andor, o
que não seria um problema com os dez Ponta Lancenses de Grum, pelo menos era
nisso que Nogard acreditava. Foi ali naquela montanha que Jaoh’ndar vislumbrou Mitrhiilden
pela primeira vez, como ele a encontrou é de ciência de poucos, no entanto
muitos sabem que ainda existem mistérios sob aquele enorme aglomerado de picos.
Enquanto seguiam
caminho Nogard e Arwen não paravam de conversar um minuto sequer, e Jih’ndo os
observava, o rico Jeh’khgari conhecia o segredo do garoto, o ouro e a prata
podem trazer à tona mais segredos do que se pode imaginar, mas não se atreveria
a contar, ele achava obscuro demais e não estava disposto a se envolver em tão
mau agouro, certamente no momento certo o jovem saberia, e quem sabe, dentre
aqueles milhares de homens de Andor e da velha Jeh’khgar, justamente aquele
garoto, uma criança, que espantava a todos com sua simplicidade e bravura, não
carregaria o destino do mundo em suas veias e em seus ombros, quem sabe, se
todos tivessem sorte, não surgiria, através dele, uma nova Era da Boa Fortuna.
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