sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Nove Dragões - A Lenda de Nogard

Capítulo 13 – Rumo Ao Norte



   Eles se lavaram, jantaram e foram dormir, dormiram naquela noite como se não houvesse amanhã, estavam exaustos, de noites mal dormidas e batalhas a muito não vistas. Pela manhã, o desjejum estava posto, mais fartura na mesa de Jih’ndo, o rico Jeh’khgari não poupava fundos, e da maneira como gastava deveria ser realmente rico, como todos diziam.
  Nogard foi acordado por Renolon, o Príncipe estava majestoso naquela manhã, usava uma cota de malha prateada com o cavalo prateado da cidade estampado no peito e nas costas, utilizava um cinto de espada repleto de pequenas jóias, calçava botas longas de montar, e sobre a cabeça trazia uma pequena coroa, fina como um galho mas tão dourada quanto o sol, seus cabelos estavam particularmente bonitos na luz da manhã.
  - Acorde pequeno herói – disse Renolom sorrindo -, venha, o pequeno-almoço esta servido, dessa vez seja moderado em relação aos morangos, sim. – o garoto corou perante o comentário.
  Os estábulos da grande construção de Jih’ndo estavam em total movimento, cavalariços preparando os animais e as bagagens para a longa viagem, Pontas de Lança, seis longos meses no Norte, pensou o garoto, que não conhecia nada além da pobre Ferro Forte e suspirou, que seja então.
  Merlon, Jih’ndo e Renolon estavam comendo. Arwen também estava sentada e mordiscava um pequeno pedaço de pão, estava mais emburrada que no dia anterior e Nogard logo soube o motivo, estava vestida com um vestido novo, Jih’ndo havia providenciado, o outro estava em ruínas, era um vestido branco, repleto de rosas e flores bordadas, lhe cobria os pés mesmo sentada, possuía varias saias sobrepostas e uma gola exageradamente grande, que Arwen logo rasgou e jogou no colo de Jih’ndo, seu corpete estava tão apertado que a garota respirava com dificuldade, e Nogard riu daquilo, seria interessante lutar com ela assim, provavelmente a saia a derrotaria antes de mim, pensou o garoto.
  - Senhores. – disse Nogard quando sentou-se a mesa.
  Merlon cruzou os braços sobre o peito.
  - Tenho que concordar com você novamente, Decadência, a uma semana ele não tinha modos à mesa, reclamava do trabalho e roubava coisas, agora faz reverência para se sentar, levantar e comer, odeio essa cidade.
  - Ora não seja tão cruel com a cidade Merlon, são os Cavaleiros e sua cordialidade que influenciam os jovens – disse Jih’ndo -, encare pelo lado bom, pelo menos ele parou de se ajoelhar.
  Nogard passou os olhos pela mesa, havia alguns pães recheados com presunto defumado, algumas rodelas de queijo com pequenos pedaços de carne torrada, frutas em uma cesta, jarros de vinho e uma grande caneca de suco de laranjas com manga, havia uma sopa leve em cada um dos lugares, e a dele já estava esfriando, a torta de morangos estava ali mais uma vez, mesmo com desejo o garoto achou melhor não tocá-la. Nogard inclinou-se para pegar um pedaço de pão e  afundou as pontas dos cabelos na sopa, só então reparou que estavam ficando realmente compridos, o garoto estava crescendo rápido nos últimos dias, e não sabia a razão.
  - Então, quanto tempo acha que levarão até Pontas de Lanças? – perguntou Renolon, que ficaria em Pescoço dos Homens.
  - Creio que um mês. – respondeu Jih’ndo.
  Nogard se espantou.
  - Um mês? Mas a carroça de Merlon não andará tão rápido assim nem que os Dr... nem que coisas antigas voltem a aparecer.
  O velho retirou um punhado de seu fumo da manga do manto cinza e começou a prepará-lo, na mesa do anfitrião e sem a autorização dele.
  - Coisas antigas já estão voltando Nogard, e Lorde Grum jamais levaria lanças em carroças, ele vai levá-las em seus cavalos, e prepare-se para cavalgar rápido ou ficará para trás. – disse Merlon acendendo seu cachimbo, Jih’ndo cobriu a boca e o nariz com um tecido, mas aquilo não serviria para intimidar o General – Além do mais minha carroça e meus velhos cavalos vão para Ferro Forte, retornarei para lá assim que partirem.
  Dessa vez foi Arwen quem se espantou, engasgou com o suco e limpou a boca com a manga do vestido, para desespero de Jih’ndo.
  - Não vai para Pontas de Lanças conosco? – perguntou Nogard.
  - Não, e nem Renolon, como já devem imaginar, mas Jih’ndo certamente cuidará de vocês, tenho coisas para resolver no oeste, Nona Ilha está tão isolada como pode ficar, sua comunidade própria me preocupa, às vezes eles se esquecem que pertencem a Andor, e tenho certeza que Argus não vai lá a muito tempo. Também devo impedir tolos de se matarem em uma guerra sem sentido, e por tudo aquilo que é mais sagrado impedir que aqueles malditos Bulks atravessem o Grande Paredão.
  - Descul... – Nogard começou a falar.
  - Deseja outra pitada de sua própria bainha, como a de ontem?
  O garoto entendeu a mensagem e se calou. O resto do desjejum seguiu em silêncio.
  Pegaram os cavalos nos estábulos, Arkas estava a postos, espantando qualquer cavalariço que ameaçasse tocá-lo. Montaram e foram até o Portão Norte, muitos homens estavam trabalhando na reforma do portão, pararam sob o arco e se despediram.
  - Deseja dar algum recado à suas mães, crianças? – perguntou Merlon.
  Arwen logo se adiantou.
  - Diga a minha mãe e a meu pai que fui chamada pelo Rei, ou eles virão me buscar. – disse a garota, um pouco espantada pela possibilidade.
  - Sim, entendo o seu ponto de vista, eu direi, e você Nogard?
  Nogard parecia austero sobre seu Arkas, fitava o horizonte da Baía das Algas ao longe, fechou os olhos, viu sua mãe, os longos cabelos negros, o sorrizo triste.
  - Que me perdoe, por deixá-la só em um momento tão delicado.
  A resposta surpreender Merlon, definitivamente ele está passando pelo Rovãn, mais cedo do que eu pude imaginar, não é à toa que ele é diferente, até mesmo daqueles como nós, pensou o velho, com as duas mãos apoiadas na espada. Passou os olhos por Nogard e não via mais uma criança, via um jovem Cavaleiro, e desejava que ele amadurecesse logo, pois segredos seriam contados e batalhas seriam travadas, e coisas viriam nos próximos dias.
  - Como queira. Preste atenção a tudo que lhe ensinarem e treine com seriedade, Pontas de Lança pode dobrar até os mais promissores guerreiros. – disse Merlon.
  - Cuidado com o anoitecer e não esqueçam que Pescoço dos Homens estará aqui, para quando retornarem.- disse Renolom fazendo uma reverência.
  Eles eram uma comitiva de dez guerreiros mortíferos, um Lorde, um Grande Senhor e quatro de seus criados, duas crianças, dezesseis cavalos rápidos carregados com lanças nas laterais e um enorme Gravas, que podia correr mais rápido que qualquer cavalo do reino.
  - Iremos procurar os perigos, Príncipe, e não evitá-los, somos Ponta Lancenses e não Cavaleiros da Cidade. – disse Lorde Grum, e deu uma ordem a seus Nascidos da Batalha, os guerreiros começaram a se mover.
  Renolon decidiu ignorar a afronta.
  Nogard se lembrou de algo, algo que aconteceu durante a batalha, o Dragão o havia chamado de ladrão, percebeu então que se não perguntasse agora à Merlon apenas alimentaria essa dúvida por seis longos meses.
  - Merlon, porque o Dragão me acusou de ser um ladrão.
  Renolom pareceu espantado com a pergunta, descruzou os braços e ficou apreensivo.
  - Essas criaturas são misteriosas garoto, não se sabe o que pensam ou o que sentem, ele pode ter perdido milhares de coisas ao longo desses anos, e deve acusar milhares de pessoas por tal acontecimento, se um dia eu descobrir, lhe contarei. – disse Merlon se evadindo da resposta, que ele com certeza sabia.
  - Então é adeus? – perguntou Nogard voltando a ser criança.
  Merlon sorriu.
  - Ainda vamos nos ver, pode ter certeza disto, mantenha-se calmo e se torne um guerreiro, conheça sua espada e ela o reconhecerá, não maltrate seu cavalo e ele o levará até onde o pensamento puder ir, nunca vire as costas para um amigo ou ele não se lembrará de você em suas preces, por hora devemos esperar, e estar preparados para quando chegar o momento de agir. – deu uma longa baforada em seu cachimbo, soprou para os ares – Sabe Nogard, estou orgulhoso de você, você me lembra seu pai quando jovem, era um guerreiro formidável, espero que tenha um fim melhor que o dele, e não é um adeus, é um até logo, meu amigo.
  - Até logo Merlon. – disse o garoto e se afastou, para seguir o grupo, iriam para o Norte, passariam pela pequena vila de Curva da Montanha, depois pela Cidade sede de Angur, para reabastecer provisões, e seguiriam a longa jornada através da Passagem das Montanhas, que era infestada de ladrões, patifes e calhordas de toda a Andor, o que não seria um problema com os dez Ponta Lancenses de Grum, pelo menos era nisso que Nogard acreditava. Foi ali naquela montanha que Jaoh’ndar vislumbrou Mitrhiilden pela primeira vez, como ele a encontrou é de ciência de poucos, no entanto muitos sabem que ainda existem mistérios sob aquele enorme aglomerado de picos.

  Enquanto seguiam caminho Nogard e Arwen não paravam de conversar um minuto sequer, e Jih’ndo os observava, o rico Jeh’khgari conhecia o segredo do garoto, o ouro e a prata podem trazer à tona mais segredos do que se pode imaginar, mas não se atreveria a contar, ele achava obscuro demais e não estava disposto a se envolver em tão mau agouro, certamente no momento certo o jovem saberia, e quem sabe, dentre aqueles milhares de homens de Andor e da velha Jeh’khgar, justamente aquele garoto, uma criança, que espantava a todos com sua simplicidade e bravura, não carregaria o destino do mundo em suas veias e em seus ombros, quem sabe, se todos tivessem sorte, não surgiria, através dele, uma nova Era da Boa Fortuna.



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