Capítulo
4 – Um Dia De Folga
- Arwen! – gritou
Nogard em sua voz de criança eufórica.
A cabana de Arwen
ficava entre duas grandes rochas cobertas de flores, onde Mawreen, mãe de
Arwen, fazia questão de perder boa parte do dia tratando das belas rosas, era
uma cabana não muito grande, com um teto de palha, duas pequenas e estreitas
janelas sobre a porta pesada de carvalho, possuía uma pequena área que separava
a cerca viva de trepadeiras e a porta, onde haviam mais plantas e flores.
Mawreen era natural da outrora bela Bolkur, a Cidade Verde, como era chamada, e
como toda boa Bolkuriana, amava as plantas e a natureza.
A Cidade Verde de
Bolkur era conhecida como a cidade mais bela de toda a Andor, sua muralha era
um emaranhado de pedras, tijolos e trepadeiras, tão verdes quanto os Campos de
Vitendor, possuía inúmeros jardins espalhados por todas as ruas e casas e as
mais belas fontes já vistas, com esculturas de mármore e serpentina, os olhos
de todas as estátuas eram feitos de olivina, um material raro e muito
brilhante, o que lhe concederam a denominação de Estatuas que Observam. Quando
a guerra veio, Bolkur foi a primeira cidade a enfrentar e sofrer a ira das
sombras, e as chamas negras de Lutheraxes. Suas muralhas encandeceram-se e suas
casas tornaram-se piras funerárias, o caos se instalou em toda a imensa cidade
e nada pode ser feito para salva-la, a noite tornou-se dia e podia-se ver a
cidade em chamas a muitas léguas de distancia, existe um mito de que naquela
noite pode-se ouvir os rugidos e os lamentos de seu antigo protetor,
Guerdhenrax, o Dragão Verde, Força da Natureza. Que também tinha abandonado os
homens.
Arwen pôs a cabeça
para foda da porta de carvalho semi-aberta.
- Só um minuto. – e
entrou na casa, saindo pouco tempo depois – Bom dia.
- Bom dia mesmo,
Arwen vou virar um cavaleiro! – disse Nogard ,confundindo o fato de que estava
indo para Pescoço dos Homens para o comércio e não para o treinamento – Parto
amanha bem cedo.
A expressão de Arwen
não foi de felicidade ou alegria, sonhava em ver os cavaleiros, em ser uma
escudeira, o que era pouco provável em Andor, e este sonho parecia cada dia
mais distante, e com a ausência de Nogard ali em Ferro Forte, não poderia
treinar nunca mais.
- Venha vamos ao rio
– disse Arwen puxando Nogard pelo braço -, la continuamos essa conversa, meus
pais podem ouvir aqui.
E eles foram
descendo a vila, passaram novamente por Patio dos Arqueiros, e pela casa do
senhor Halgul, que estava em sua cadeira de balanço, fumando cachimbo e com a
mesma cara de rabugento de sempre. Nogard olhou para Arwen e ela entendeu o seu
olhar, eles olharam para o senhor Halgul e mostraram as línguas.
E correram.
O velho senhor
Halgul se espantou com o ato das crianças, atrapalhou-se com seu cachimbo,
queimou-se com a brasa e caiu para trás da cadeira.
- Ainda pego vocês
seus moleques! – gritou o velho brandindo sua bengala.
Eles correram sorrindo
e se empurrando até chegarem ao Rio de Ferro. O rio era escuro e selvagem,
levava esse nome pois todas as arestas ou peças que os Ferreiros não desejavam
ou aproveitavam mais iam parar no rio, que espalhava e carregava os metais por
toda sua extensão até a Baía das Algas. Nogard e Arwen sentaram-se ao lado do
pequeno moinho de água, e do casebre de
pedras da vila.
- Então você vai
para a cidade amanha? – perguntou Arwen atirando pedrinhas na água.
- Sim, não vai ter
mais festa, meu aniversario foi substituído por essa viagem, minha mãe disse
que tenho que aprender sobre o comércio mas não quero ficar fazendo armas,
quero usa-las, imagine Arwen, todos aqueles cavaleiros e arqueiros, com suas
armaduras em filas e mais filas de guerreiros, apenas esperando que os do Sul
venham para defender o reino, essa viagem vai ser a melhor viagem de todas. –
contou Nogard, sonhando alto e não reparando no rosto vermelho de inveja da
amiga.
- Como você pôde
fazer isso comigo, pensei que fossemos amigos. – disse Arwen com os olhos
cheios de lágrimas.
Nogard ficou
surpreso.
- Mas Ar...
- Não fale mais
comigo. Nunca mais. – disse Arwen dessa vez chorando, e encolheu os joelhos
próximo ao queixo.
Nogard ficou quieto,
não sabia o que fazer, pensou que Arwen ficaria feliz pela sua viagem com
Merlon. Nogard gostava demais de Arwen para vê-la triste, e a coisa que mais o
incomodava era vê-la chorar, não acredito
que Arwen vai me obrigar a fazer outra traquinagem, pensou Nogard já com um
plano mirabolante em mente, um plano tão absurdo que apenas uma criança poderia
bolar.
- Você já viu a
carroça de Merlon? – perguntou Nogard, que recebeu como resposta os assobios
desdenhosos de Arwen, que continuava jogando pedrinhas no rio.
- É uma carroça
grande, com espaço para muitas lanças deitadas e escudos nas laterais, apesar
de ser uma carroça nova ela range demais para o meu gosto, possui um longo
banco de condução e já vi inúmeras vezes Merlon trazendo até cem sacas de Vila
dos Carvoeiros.
Arwen continuava a
assobiar e fingir que Nogard era um mosquito que lhe incomodava os ouvidos.
Nogard quase riu da cara dela mas em vez disso levantou-se e fingiu que
voltaria para a vila sozinho.
- Que pena que você
não conhece, eu diria que caberia até uma pessoa na bagagem e ainda sobraria
espaço para todas as lanças de Lorde Grum.
As pedrinhas pararam
de cair no rio e os assobios desdenhosos silenciaram-se.
- Espere – disse
Arwen com um longo sorriso no rosto corado pelo choro -, esta falando sério?
Acha que isso pode funcionar?
Nogard deu de
ombros.
- Não custa nada
tentar, a parte mais complicada vai ser quando voltarmos.
- Não importa, ja
terei visto os cavaleiros, e se convencer algum a me aceitar como escudeira ele
virá pedir aos meus pais em nome do Rei, e eles não poderão negar.
- Então acho melhor
você acordar bem cedo amanha Arwen, porque vamos ver cavaleiros.
Arwen deu um abraço
em Nogard e agradeceu, ele se afastou dizendo que não precisava de tanto.
E caminharam de
volta para a vila quando estava começando a escurecer, era pouco mais de
meio-dia.
- Merlon chamou o
filho de Pontur? – perguntou Arwen
-Para a viagem?
- Não, para ajuda-lo
na forja, porque já esta escurecendo e você não foi para lá hoje.
Nogard parou de
caminhar, engoliu seco, olhou para os céus, fitou Arwen e pensou, pelos Dragões, eu esqueci.
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