terça-feira, 15 de outubro de 2013

Quero Ser Escritor 14 - Roteiro e Livro


Quem já assistiu ao MRG show 09, percebeu um começo de discórdia entre Affonso Universolano e o Diogo, sobre se a responsabilidade de adaptação de um livro para roteiro não seria melhor se estivesse a cargo do próprio escritor.
Affonso não achou boa a ideia, mas como o Roberto concordava com o Diogo a discussão morreu ali mesmo. Também porque o objetivo do show não é gerar polêmicas, mas abrir espaço para pensar a respeito.
Então vamos fazer um exercício, leiam este trecho que é a única descrição de uma sala:
“Da grande janela na sala do conselho do rei voltada para o lado norte do vale, o sol poente dividia o céu em ocre abaixo e roxo acima. Em cada abóbada do teto, um urso rugia na pedra.”
Agora fechem os olhos e imaginem a sala.
Cada um de vocês deve ter imaginado de um jeito.
Com os olhos de um fã de Harry Potter o urso poderia rugir, literalmente, saindo da pedra e apontado  suas garras para quem olhasse para cima. Poderia ou não haver uma grande ou pequena mesa na sala e estantes de livros nas paredes.
Um escritor como George R.R. Martin, que fez a vida escrevendo roteiros, teria habilidade de escrever os roteiros para Games of Thrones e não o faz. Por quê? Ele mesmo responde:
“É muito difícil, escrevi o roteiro de um episódio “Blackwater”. Prosa e roteiro possuem diferentes técnicas e ferramentas. Num livro tem-se um monólogo interior o que permite o acesso aos pensamentos do personagem. Ele pode contar uma mentira, mas você está dentro da cabeça dele, ele sabe que o personagem está mentindo. Quando você assiste, você só ouve o que ele diz – o ator tem que vender a ideia através de seus olhos e boca. Grandes atores podem fazer isso... Se você der uma olhada na “Battle of the Blackwater“ no livro, ela ocupa oito ou nove capítulos, intercalando três pontos de vista. Se você filmasse como está no livro teria custado 100 milhões de dólares e demorado dois meses para ser feito”.
No roteiro você tem o tempo da ação dramática delimitado por frações de segundos, é um trabalho de equipe para avaliar o que pode e não pode ser feito e de que maneira. O roteirista que adapta um livro precisa ser capaz tanto de captar a essência do que o leitor médio lê quanto manter-se fiel ao contexto proposto pelo autor. Por isso muita gente acha o filme pior do que o livro – o leitor médio não existe. E uma boa adaptação depende muito mais da qualidade do diretor e dos atores do que propriamente do cenário.

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